- Ó peregrino, por que interrompeste a caminhada? Que estás a buscar?
- busco, irmão, encontrar Aquele que me poderá guiar por essas trilhas da Luz, trilhas que conduzem à entrega ao Supremo.
- e por que dás tantas voltas por lugares inóspitos?
- estou perdido entre muitas direções. Olho em torno e não vejo sinal algum, mas apenas discórdia, luta e morte. Andei lado a lado com a dúvida, dormi no leito do temos, cheguei a esquecer o que buscava. Sofri. Lembrei-me então novamente da busca, e voltei a caminhar. Todavia, não sei por onde vou.
- pois, digo-te, a sinceridade é o maior dos bens que agora trazes no alforje. Mas não busques alhures o que se encontra em teu interior. Aquieta-te, filho da Terra, aquieta-te e perscruta teu íntimo. Silencia teu querer, oferta-o ao Supremo. Silencia... e , aos poucos, começarás a ouvir a nascente que brota do teu coração. Persiste em tua oferta, e dessa fonte jorrará a Água da Vida para lavar o mundo terrenal, e a Luz da Sabedoria para conduzir teus irmãos. Permanece entregue, e conhecerás teu Mestre – mas somente quando não mais existir quem está a se entregar. Ama. Ama com ardor e pureza. O que tudo criou, pois é no amor ao Infinito que se romperão os véus que te separam da Eternidade.
Não alimentes o que deve morrer; não semeies o que não deve nascer.
- por quantas encruzilhadas passaste?
- por cinco vezes* tive de deter-me até descobrir aonde ir. Ao longo do percurso recebi muitos convites e dadivosas promessas para ingressar em vias secundárias. Entretanto, não os aceitei, pois conheci no passado o gosto amargo do desvio. Aprendi, irmão, que, para seguir o Caminho deveria ter humildade e fé, deveria entregar-me ao Supremo. Também aprendi, com o sofrimento e com a dor, que, sem sinceridade e perseverança não poderia empreender tão ousada jornada.
Caminho semelhante não há: estreito que é, por pouco que me distraia, posso extraviar-me; retilíneo, oculta no horizonte seu princípio e seu fim. A cada passo traz um novo aprendizado, uma tarefa e uma prova. Meus dias tenho vivido a trilhá-lo, e por eles dou graças ao Supremo.
* Nota de rodapé: as cinco grandes provas a serem superadas no estágio indicado são: a soberba, a lassidão, a mentira, o furto sutil (ou o uso incorreto da energia) e a covardia.
CAPÍT. 14
Que sinais te traz a Estrela da Manhã? Aprende peregrino, seu idioma, pois ela te revelará as chaves do Encontro Maior.
A vida celestial aguarda os convidados para esse encontro. Não te preocupes com teus trajes, pois uma sublime veste, tecida com fios de pura luz e devoção está preparada para ti. Tampouco retardes teus passos sob nenhum pretexto, pois deles dependem muitos de teus irmãos.
Escuta-me, tu que recomeças. Se usares uma pequena lanterna para iluminar um quarto escuro, por melhor que a focalizes jamais verás o que se encontra além do quarto. Semelhante a essa lanterna é a consciência humana sem o ensinamento provindo da Fonte de Vida.
Sem que o ser se abra à Vida, não há real serviço. Ele deve ser capaz de manter o corpo físico, o emocional e o mental em sintonia com esferas elevadas, e isso ocorre gradualmente, pela Graça.
Caminhos de Luz abriram-se ante teus olhos; contudo, escolheste vias obscuras, cuja penumbra podia encobrir teus erros. Muitos avisos te foram dados. Uma cruz foi carregada para ti; porém, não entendeste que a vida material devia unir-se à espiritual.
De alto a baixo o Plano Divino se realiza e cumpre seus desígnios. Perguntas sobre a presença de forças obscuras na Terra. Podemos dizer-te que são a escória que flutua no metal em ponto de fundição e se torna parte dele quando está sólido, em seu estado natural. Mas sob o Fogo do Espírito o metal reencontra a pureza de origem, sua verdadeira face.
Os fracos permanecem no ponto alcançado, quando não retrocedem os fortes percorrem a senda do Espírito.
- e como posso deixar para trás tanta gente, caída em vales escuros?
- entrega, também esses, à Luz que te ilumina, mas não te detenhas. Tampouco voltes para ampará-los, pois somente da Luz a Luz pode fazer-se.
Viaja também durante a noite, pois, se reconheceste a urgência da tarefa.
Quando mãos se separam, ficam disponíveis para acolher.
(Trechos do livro “Não Estamos Sós”, Trigueirinho, ed. Pensamento)